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A casa referência do movimento De Stijl

Pensada por e para uma mulher e hoje patrimônio da UNESCO

Por Karina Fernandes

26 de Maio de 2022

Ao falar em movimento De Stijl, me vem à cabeça a clássica Composition C (No.III) with Red, Yellow and Blue, de Piet Mondrian, um de seus precursores. De Stijl, ou “O Estilo”, em Holandês, foi uma revista publicada na Holanda, em 1917, que trazia conteúdo de design, artes e arquitetura, e que denominou o grupo homônimo composto por artistas que compartilhavam de uma estética abstrata derivada de várias fontes, entre elas a arquitetura moderna – a Bauhaus foi contemporânea desse movimento -, a espiritualidade e um manifesto contra as atrocidades da 1a Guerra Mundial e dos excessos do Art Deco. O grupo tinha a tendência de uma pintura não representativa, e o termo “Neoplasticismo” definia bem a sua forma de expressão - redução dos elementos às formas simples e puras, cores primárias -amarelo, azul e vermelho - acrescidas de preto, branco e cinza.

Não sou a melhor pessoa para definir com mais precisão esse movimento da vanguarda europeia, mas as características que trouxe, elucidam bem a Casa Schörder, objeto deste artigo!

Em 1924, em Utrecht, na Holanda, a senhora Truus Schröder - então viúva e mãe de 3 filhos - entrou em contato com o designer de móveis Gerrit Rietveld - membro do movimento De Stijl, criador da famosa cadeira Red and Blue Chair - para que ele projetasse uma casa inovadora para ela e sua família, uma casa que rompesse com as tradições e representasse as aspirações do modernismo, e isso, o designer entendia com propriedade!

Ambos já haviam trabalhado juntos no passado, de modo que havia uma afinidade entre gostos e ideais. Rietveld buscou aplicar todos os princípios do De Stijl no projeto da casa e no mobiliário, que envolvia a estética modernista permitindo, então, desenvolver uma edificação que funcionasse de forma otimizada diante das novas situações trazidas naquele período histórico do entre guerras, e as novas modificações que fossem surgir - era uma das maiores necessidades demandadas no projeto. Mais do que projetista da casa, Rietveld acabou se tornando o companheiro da senhora Schröder, vivendo com ela até o seu falecimento em 1964.       

Dentre tantas características peculiares, temos linhas limpas verticais e horizontais, cores primárias juntamente com o preto e o cinza;

Janelas se encontrando nos cantos para não perder espaços, e assim promover uma maior integração entre o interior da residência e a paisagem externa;

Paredes deslizantes promovendo integração e modificação dos espaços conforme as necessidades que fossem apresentadas pelos seus ocupantes - o quarto se tornava uma sala de estudos quando não fosse usado para dormir.

Porta de correr dividindo os dois patamares entre a escada - uma proposta interessante para vedar o frio cruel do inverno nos Países Baixos e, também, dar privacidade ao espaço reservado ao telefone - algo pouco comum na época.

Painéis removíveis em madeira servindo como persianas na cozinha. Nessa época, leite, pães e outros alimentos eram entregues todos os dias nas casas das pessoas, de modo que as janelas baixas foram pensadas para permitir que as entregas fossem diretamente depositadas no balcão embaixo das janelas.

Mobiliário modernista seguindo o estilo do movimento - linhas puras e redução das formas.

De fato, a casa Schröder revolucionou a arquitetura local nesse período, podemos dizer que ela é bem contemporânea esteticamente. Fofocas históricas dizem que os filhos da proprietária sofriam bullying na escola e chegavam a falar que não moravam naquela casa, pois a população local via com estranheza um empreendimento tão inédito para tal época! 

Desde 1985, após o falecimento da senhora Schröder, a casa se tornou um museu aberto à visitação na cidade de Utretch, é considerada um patrimônio da UNESCO e símbolo do movimento De Stijl.

FONTES: 

https://www.youtube.com/watch?v=a_gvysiKDHE  - mostra a casa atualmente e as características que citei

https://www.archdaily.com.br/br/01-46426/classicos-da-arquitetura-residencia-rietveld-schroder-gerrit-rietveld  - artigo básico, em português

https://www.rietveldschroderhuis.nl/en  - site oficial da casa/museu

https://www.getty.edu/foundation/pdfs/kim/rietveld_schroder_centraalmuseum.pdf - pdf em inglês, excelente, sobre um estudo sobre a casa e suas peculiaridades

Por Karina Fernandes

Designer latinoamericana, mais especificamente de Minas Gerais. É mãe de pets, umbandista, e grande entusiasta, e também pesquisadora, das relações pessoa/espaço.


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