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Nas alturas: um relato de quem escalou o Kilimanjaro

Conversamos com a relações públicas Marina Chieppe, que subiu o monte e busca completar os sete cumes dos continentes

Por Marianne Carini

01 de Agosto de 2022

Algumas pessoas sonham em conhecer Paris, outras sonham em ter um closet recheado de peças de designers internacionais, e ainda têm aquelas que não veem a hora de casar e ter vários filhos. O sonho da PR Marina Chieppe é escalar os sete cumes mais altos de todos os continentes, e ela resolveu começar pelo quarto lugar da lista, o Kilimanjaro. O Kilimanjaro é o ponto mais alto da África, com os seus suntuosos 5.895 metros de altura, e atrai alpinistas do mundo todo que buscam chegar ao topo da montanha depois de uma semana de escalada. 

Marina, que já fez parte do time do iLove.e, não é alpinista profissional e nem nada parecido. Ela se formou em Design de Moda pela FAAP e hoje trabalha como Relações Públicas na Prosa Branding. Em 2020, enquanto morava em Los Angeles e fazia um estágio, sua paixão por caminhadas começou - a área é famosa pelas inúmeras opções de trilhas, de diferentes níveis de dificuldade. A partir daí, foi um pulo para que o amor pela escalada ganhasse forma.

No nosso bate-papo, Marina conta sobre os desafios que teve que superar ao escalar o gigante Kilimanjaro, a preparação física e mental, o dia a dia de camping e ainda dá dicas para quem quer iniciar sua jornada no universo das escaladas.

De onde surgiu seu interesse por escaladas? 

MC: Meu interesse nasceu da vontade de fazer algo que unisse minhas duas paixões: natureza e caminhada. Não sou uma pessoa que gosta muito de correr ou andar de bicicleta, por exemplo. Meu negócio é andar! A uns anos atrás morei em Los Angeles e por lá meu vício em hikings começou, quase todo final de semana eu ia explorar alguma. E foi dessa experiência que descobri essa paixão.

Minha motivação vem do desafio pessoal, assim como em uma maratona ou triathlon, quero poder desafiar meu corpo e mente. Por isso, comecei a pesquisar sobre as maiores trekkings/climbings - aquelas que, inicialmente, não exigiam conhecimento técnico.

Como é a preparação para que o seu corpo consiga passar por situações tão extremas?

MC: Logicamente a preparação física conta muito, um bom cardio pelo menos três vezes por semana é fundamental para preparar seu corpo e respiração. Mas para mim, o que mais conta, é a preparação mental. Eu sempre falo isso, quando alguém me pergunta "Você acha que eu conseguiria?", a resposta sempre vai ser "Depende do quanto você quer". 

Em um cenário onde você tem inúmeros perrengues e muitos dias exaustivos, qualquer coisa pode ser um motivo para desistir, então a preparação mental é sem dúvidas a mais importante de todas. Não só a do querer estar lá, mas também de saber lidar com suas ansiedades e dificuldades. Minha dica aqui é baixar uma boa playlist de meditação guiada, sempre me ajuda muito para ouvir antes de dormir.

 Quais foram os desafios físicos e mentais que tiveram que ser superados?

MC: O maior desafio físico quando falamos de caminhadas em altitudes altas e extremas são os sintomas. Normalmente dor de cabeça, enjoo, perda de apetite e dificuldade em respirar são os mais comuns. No meu caso, meu corpo costuma reagir muito bem a alta altitude e só senti dores de cabeça moderadas e maior dificuldade para respirar (qualquer coisinha te deixa super ofegante). Quanto aos desafios mentais, acho que controlar a ansiedade e viver o momento é a chave para superar. Quando você já tem um trajeto de dias traçado e sabe o que te espera (em termos de horas de caminhada, altitude, nível de dificuldade, etc.) é muito fácil ficar sempre pensando no dia seguinte e se preocupando/sofrendo com antecedência. É aquela história do "Meu Deus, se já estou assim no terceiro dia, imagina no sexto". Então algo que eu pratiquei comigo mesma é sempre focar no presente, naquele dia, um dia de cada vez.

Como era o dia dia do camping?

 MC: O dia a dia no camping, para mim, foi uma experiência à parte! Era o nosso momento de descontração, onde finalmente sentávamos para conversar e falar sobre o dia e fazer trocas de opiniões. Tive muita sorte de estar em um grupo super legal de pessoas e nos demos super bem. Dito isso, o camping também tem seus desafios, a barraca era super pequena e você não consegue ficar em pé, por exemplo. Além disso, era muito frio e mesmo com saco de dormir térmico e muitas camadas de roupa, era sempre um sofrimento para mim o processo de pegar no sono naquele frio (por isso a dica da playlist de meditação guiada).

O banheiro também é um desafio à parte. Eles são buracos no chão comunitários, e sobre chuveiro, não tínhamos. Foram sete dias sem banho! Nem sequer molhar o corpo é recomendado pelos guias, por conta do risco de gripe, pneumonia ou até hipotermia. Nosso banho era com toalhas umedecidas.

 Qual foi a parte mais bonita da jornada? E a mais difícil?

MC: A parte mais bonita foi a chegada ao topo. Querendo ou não, é o que você mais espera durante os dias, e quando você finalmente está ali é uma sensação maravilhosa. Além disso, a vista lá de cima, principalmente das geleiras, é algo indescritível! Você não sabe onde termina a neve e começam as nuvens. E ao mesmo tempo, essa também foi a mais difícil. A escalada até o cume demora em torno de sete horas e é muito desgastante, não só pela parte física de subir um trajeto super inclinado em alta altitude por tanto tempo, mas também pelo frio, que para mim foi algo muito desafiador! Chegamos a pegar -25 ºC em um momento. Foi realmente a única razão em toda a viagem que me fez questionar o porque eu estava ali, o porque eu tinha escolhido fazer aquilo. A sensação é que foram às sete horas mais longas da minha vida.

Mudou alguma coisa em você depois de ter finalizado essa aventura? O que você aprendeu?

MC: Com certeza me senti muito mais forte e independente. Uma sensação de felicidade, poder e orgulho por ter conseguido alcançar esse objetivo. Acho que depois de completar algo de tamanho significado da sua bucket list, você sai com um certo vício de "what's next?" e já começa a pensar no próximo desafio. É um caminho sem volta.

Por ter feito essa (e outras) caminhadas sozinha, é sempre um aprendizado muito bom ver como eu sou auto suficiente. A sensação de que eu não preciso da companhia ou apoio de ninguém fisicamente ali para conseguir completar isso. É saber que eu amo estar comigo mesma e consigo alcançar meus objetivos de forma independente.

Alguma dica para quem quer começar a escalar?

MC: Minha dica seria começar pelo simples: trilhas que tenham uma duração maior, de seis ou oito horas. Depois, se possível, adicionar uma altitude maior, para já testar como o seu corpo reage em diferentes altitudes. Pegando a minha experiência, acho que a ideia de, pelo menos duas vezes ao mês, fazer trilhas mais longas é uma ótima forma de começar a sentir segurança. Acampar também ajuda muito! Ter alguma experiência de como é essa rotina de camping e dormir em barraca.

Planos para o próximo Monte? Qual vai ser?

MC: Essa é a pergunta do milhão! Eu coloquei como objetivo fazer os sete cumes (que são as sete maiores montanhas de cada continente). Seguindo por ordem de dificuldade, o Monte Elbrus seria a minha escolha! Acontece que ele fica na Rússia, e dada a situação atual do país, não acho que seja um bom momento. Então pensei em talvez focar no Aconcágua, já que fica aqui perto, na Argentina. É consideravelmente mais alto e tem uma duração maior (cerca de 12 a 15 dias dependendo do trajeto) e de maior dificuldade (tem uma taxa de sucesso de 20%). Nunca fiquei tanto tempo, então pode ser um novo desafio interessante! 

 Quem sabe?

 Por enquanto vou seguir nas trilhas e caminhadas locais até decidir esse novo objetivo.

Por Marianne Carini


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