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cultura

Um mergulho no desconhecido

Um salto que leva a descobrir um infinito de possibilidades que nunca nem haviam despertado seu interesse

Por Julia Schwarz

07 de Novembro de 2022

No nosso último papo deixei algumas dicas para se familiarizar novamente - ou pela primeira vez - com o hábito de leitura e, porque nada é feito de forma lenta hoje em dia, volto aqui logo para conversar sobre alguns desafios e recompensas ao se encontrar com temas que inicialmente parecem ter zero a ver com a gente.

Eu tenho alguns relacionamentos com autores e temáticas pelas quais eu ainda fico meio em choque de gostar, e eles começam com o meu escritor preferido atualmente: Haruki Murakami! Eu não sou uma grande fã de ficção (viagens no tempo, entre dimensões e mundos inteiros dentro do subsolo) mas, incrivelmente, encontrei na obra desse autor um novo vício, coroado com o desespero de saber que, hoje em dia, não tem mais nenhuma obra nova dele para ler.

Comecei lendo a sua obra mais famosa, "Norwegian Wood", uma das mais tranquilas e ótima introdução ao estilo literário de Murakami. Mas, logo depois, mergulhei em uma trilogia chamada 1Q84, onde os personagens lidam com duas dimensões, duas luas, seitas e é só o começo… Foi um susto me encontrar nessa temática e ver que eu estava gostando -  e o resultado disso é que hoje, eu não posso imaginar como seria a minha trajetória de leitura sem experimentar o autor japonês.

No mês passado, também tive uma experiência bem interessante com um dos livros que li da Rosa Montero. Ela é uma jornalista e autora espanhola, a qual eu entrei em contato nos últimos anos e não consegui mais largar. A vastidão de obras da Rosa é um pouco menor, por isso me encontro com menos frequência na narrativa dela, mas toda vez que acontece é um ótimo gostinho de como fazer qualquer assunto soar interessantíssimo.

Em "Nós, mulheres", Montero conta a história - de forma rápida e em pequenos capítulos - de diversas vidas femininas, entre nomes extremamente reconhecidos como Agatha Christie, Frida Kahlo e Simone de Beauvoir. A surpresa agradável foi me deparar com nomes aos quais nunca tinha ouvido antes. Ela trouxe mulheres que foram apagadas, esquecidas ou simplesmente tratadas como coadjuvantes na história de vida de outras pessoas. Foi assim que me encontrei completamente absorvida em mundos que não tem nada a ver comigo (uma arqueóloga, por exemplo). E, se eu fosse 110% honesta, provavelmente não teria comprado este livro se não tivesse sido escrito pela autora, já que os nomes ali nada me diziam…. Mas disseram, e muito! Por falar em sua narrativa viciante, gosto sempre de trazer um exemplo que me surpreende até hoje. Em "A ridícula ideia de nunca mais te ver", minha obra introdutória ao seu mundo, ela fala sobre luto. É um ensaio biográfico lindo sobre perda. 

Emergindo neste mesmo tema, "O ano do pensamento mágico" e "Noites azuis" - a primeira obra se trata da morte do marido e a segunda sobre a morte da sua filha - de Joan Didion me ajudam a provar que muitas vezes, mergulhar nesse tema tão pouco discutido abertamente, não é só libertador mas também transformador.

Eu, particularmente, nunca passei por uma perda profunda na minha vida, então porque, de repente, me sinto tão atraída a provar um pouco do sentimento que essas incríveis mulheres passaram? Só Freud para explicar… Ou uma identificação com narrativas cativantes, que transformam a pior das situações em obras emblemáticas.

Por último, mas não menos importante, queria falar sobre psicanálise. É, psicanalise.

Tudo se desenrolou desta maneira por causa de uma sinopse qualquer que me despertou uma curiosidade e apresentou mais um autor que eu já não tenho mais novas obras para conhecer - porque já devorei tudo que existe. "Quando Nietzsche chorou", do Dr. Irvin D. Yalom é uma dessas obras que foge completamente do meu personagem e ainda sim, é uma das minhas preferidas.

O autor é um psicanalista apaixonado por literatura, então resolveu unir suas maiores paixões e escrever alguns dos livros mais bem construídos que já me deparei! O primeiro que li, justamente o "Quando Nietzsche chorou", é um trabalho de ficção que reconta, entre idas e vindas no tempo, o grande filósofo Nietzsche se tratando com um terapeuta. As funções de paciente e médico começam a se confundir, uma vez que o filósofo consegue se aliviar de suas maiores angústias - quem sabe alguma coisa sobre a história de Nietzsche, entende que são muitas - e seu terapeuta também encontra na filosofia respostas para suas crises existenciais. Honestamente, nem sei como eu achei interessante a primeira vez que li, mas a realidade é que comprei o livro e nunca mais fui a mesma. 

O autor ainda tem muitas obras tão interessantes quanto essa, e a construção da narrativa que mescla a ficção com muitos pontos de história real é extremamente cativante.

Enfim, esse passeio todo foi para te mostrar que vale a pena se arriscar em muitos sentidos da vida, e sim, inclusive na literatura. Você pode, de repente, se ver lendo sobre Freud e Nietzsche e achar que vai entender qualquer obra deles (não vai), como também acreditar que qualquer livro sobre psicanálise é fácil (não é). Mas o importante é que nesse caminho desconhecido, conheci autores que carrego muito em mim e histórias que nunca vão sair da minha cabeça.

O mundo literário é um despertar imenso, então porquê não abrir todas as portas possíveis e se jogar sem saber onde vai parar? Quem sabe você descobre a sua nova autora ou autor preferido?

Por Julia Schwarz

Stylist e apaixonada por leitura


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