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Dona do buffet que está presente nos eventos de moda mais sofisticados de São Paulo, Aninha Gonzalez abre as portas de sua casa e do seu primeiro restaurante
01 de Dezembro de 2022
Ser uma mulher moderna nos dias de hoje vai muito além do escopo trabalho, casa e maternidade. É preciso equilibrar os pratinhos e encarar jornadas de vários turnos. Nada que Ana Gonzalez Berganton não tire de letra, afinal, Aninha, como é conhecida, além de ser mãe de Pedro, de 16 anos, e de Olívia, de 14, é dona de um dos buffets mais requisitados de São Paulo, artista e recentemente abriu as portas do seu primeiro restaurante, o Fome de Quê.
"Um dia comum na minha vida começa em silêncio. Tento pintar um pouco em casa para despertar com calma, mas o Whatsapp já está apitando sem parar - é de enlouquecer! Ainda não tenho uma rotina de ginástica, mas jogo beach tennis sempre que consigo. De manhã, muitas vezes vou ao restaurante e organizo umas coisas - falo com a equipe, tiro dúvidas, vejo a agenda de eventos da semana. Costumo almoçar por lá mesmo enquanto faço orçamentos e converso com os clientes. No período da tarde faço visitas, vou ao supermercado, dou uma passada nos eventos que consigo (hoje em dia tenho um time para me ajudar com isso, ainda bem). Não durmo tão cedo porque normalmente leio e pinto à noite para me acalmar" conta Aninha, em uma entrevista cedida nos minutos que encontrava entre uma tarefa e outra. Como ela consegue conciliar tudo? "Não consigo! Fico doida", brinca. "A cada hora tento me ajustar àquilo que mais precisa de atenção no momento". Ufa! É muita coisa! Mas sua trajetória de vida parece tê-la preparado para esse agito todo.
Aninha nasceu em São Paulo, onde viveu até os 12 anos, quando se mudou com a família para o Espírito Santo. Lá, morou em Manguinhos, um vilarejo de pescadores que fica próximo do município da Serra. Aos 17 anos, foi morar em Florianópolis, Santa Catarina, onde estudou Arquitetura, na UFSC. "Era o curso mais próximo de arte na época, mas eu não me dava muito bem com os cálculos". Então, aos 22, voltou para São Paulo e cursou Jornalismo na USP. "Acabei direcionando para o lado da gastronomia. Para poder escrever sobre comida, achei que precisava estagiar em restaurantes", lembra.
Assim, Aninha trabalhou em restaurantes renomados, como Gero, Fasano e Chef Rouge e chegou até Nova York. "Morei lá logo que me formei em jornalismo. Na época, trabalhava na Revista Gula e resolvi mandar uma carta para o restaurante Daniel Boulud. Eles responderam me convidando para um estágio, então fui", conta. De volta a São Paulo, resolveu abrir o buffet que leva seu nome. "Começou na cozinha da minha casa, com os jantares que costumo dar para os amigos. Tudo investido no buffet foi fruto do meu trabalho - horas em pé, finais de semana sem viajar, sem amigos", diz.
Mas, não é preciso verbalizar para saber que houve muita dedicação. Hoje, 25 anos depois, Aninha é conhecida por oferecer o que poucos banquetes conseguem: a união entre comida de alma e sofisticação. Não por acaso, além de eventos pessoais, seus pratos coloridos e saborosos são vistos frequentemente em eventos de marcas como Dior, Bottega Veneta, Hermès, Chanel, Tiffany & Co e muitas outras. O segredo? Bons ingredientes e pé no chão. "Servimos comida de festa com cara de casa. Priorizamos bons ingredientes, pratos simples mas sofisticados pela intenção de alimentar com sinceridade".
Aliás, a casa onde mora há três anos tem a mesma intenção. Tudo nela exala o receber. "A sala é espaçosa. Tenho duas mesas de jantar - uma para nós quatro (ela, os filhos e o marido, o empresário Beto Gonçalves) e outra maior que uso para pintar e quando vem mais gente. Gosto de gente por perto".
O mix entre o vintage e o contemporâneo dá o tom para o sobrado aconchegante e cheio de personalidade, que substituiu com bossa o lar antigo. "Eu morava em uma casa grande, que aluguei para uma amiga que tem um filho e mais três do marido. Assim, eu consigo visitar meu ex-jardim de vez em quando e não tenho todo o trabalho que dá uma casa daquele tamanho. Aqui é mais enxuto e fica em uma pracinha que adoro".
A cozinha poderia lembrar a de uma senhorinha bem moderna, não fossem as cores inusitadas e detalhes de decoração escolhidos pela anfitriã, que tem um olhar chique e despretensioso para a decoração. É lá que ela prepara os famosos almoços e jantares. "Gosto de cozinhar pratos únicos, como um arroz, uma massa. Cozinho com os amigos, não só para eles. Aprendo muito com todos", conta.
Nessas horas, gosta de usar vestidos soltos e peças que não atrapalham os movimentos. Apaixonada por moda, Aninha opta sempre por combinações divertidas e descoladas. "Gosto de cores, de bagunçar meu próprio estilo. Uso muitos brincos, bolsas diferentes e amo tênis. Sou viciada em todos eles - Vans, Converse, os conguinhas". Cores essas que saem do look do dia e vão para as paredes. É obra dela a pintura da parede do quarto da filha, Olívia. O que demonstra outra faceta de Aninha: nessa casa mora uma artista.
Quando mais jovem, Aninha fez cursos de pintura em São Paulo e em Nova York, no MAM. "Minha avó fez Belas Artes e me incentivava a pintar desde pequena. Me deu um cavalete, telas e tintas quando eu tinha uns oito anos. Sou uma pessoa observadora e o fato de ter morado na praia e estado muito perto da natureza, me fizeram olhar para o mundo com uma vontade intencional de enxergar além", lembra. Mas, foi apenas há quatro anos que o hobby começou a virar negócio. "Fiz um curso de aquarela com a Pinky Wainer e agora desenho e pinto também com acrílico, guache, pastel seco e caneta. Ainda quero ir para o óleo, que foi a primeira tinta que usei".
Como tudo o que faz, claro, seus quadros lúdicos e quase sempre em tons pastel ganharam notoriedade e, em 2020, seus trabalhos foram, pela primeira vez, expostos na SP-Arte, uma das feiras de arte mais importantes de São Paulo. Hoje, ela é representada pelo fotógrafo Fabiano Al Makul, dono da Casa Rosa Amarela, um espaço multicultural de manifestações artísticas.
Ainda, durante a pandemia, Aninha começou a estruturar o Fome de Quê, restaurante que abriu as portas oficialmente em abril deste ano no badalado bairro de Pinheiros. "Ele vem para atender a pedidos menores que os de uma festa", diz. "Queria algo informal, onde as pessoas pudessem ir até de roupa de ginástica. Despretensioso como a gente. Tudo foi feito sem planos. Foi acontecendo e o processo não terminou. Ainda quero vender mais produtos, ter coisas para comer o dia todo e não apenas no almoço". A proposta: comida gostosa, elegante e sincera - como a alma dessa mulher incansável que tem o dom de alegrar e inspirar a todos que a rodeiam.
DICA DE EXPERT
Aninha é uma pessoa que faz muitas coisas bem, mas receber é sua expertise. Aqui, reunimos cinco dicas que qualquer pessoa pode replicar em casa.
Seja a pessoa mais animada da casa, isso faz com que a energia dos convidados fique sempre na mesma frequência.
Não comece a recolher a bagunça enquanto o encontro ainda está acontecendo para não espantar os amigos.
A bebida deve estar muito gelada e nunca pode faltar gelo.
Nunca se vista exageradamente para que os convidados não sintam que deveriam ter se esforçado mais.
Faça a sobremesa mais gostosa do mundo - as pessoas só mentem que fazem regime.