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Vida de Yoga
Caminho de disciplina e resiliência para a evolução pessoal
05 de Dezembro de 2022

Eu não me recordo ao certo quando tomei conhecimento da existência do Yoga. Lembro que uma vez, muito criança, vi minha avó com as pernas cruzadas sentada em um canto, com os olhos fechados e as mãos encostadas nos joelhos fazendo uma espécie de sinal de “ok”. Ela, então, me contou que tinha aprendido aquilo no Yoga, uma espécie de “ginástica”, mas que ia muito além disso, e que o que ela estava fazendo se chamava meditação, um exercício muito importante para a “cabeça”. Foi uma forma bem gentil e didática de tentar explicar isso para uma criança, afinal, somente após os meus dezesseis anos, quando as crises de ansiedade passaram a ser mais recorrentes, que entendi o que era cuidar da “cabeça”, e entendi que o que a minha avó tinha era depressão.
Muitos anos depois, eu fiz a minha primeira aula de Yoga - não consegui entender por que aquilo era bom para a saúde mental; como aquilo ajudou a minha avó a enfrentar a sua questão mental, não fez o menor sentido para mim. Eu já havia lido algumas coisas sobre essa prática indiana milenar, seus benefícios; achava as posturas – asanas - belíssimas, mas até que ponto a prática de posturas corporais, respirações, recitação de mantras e meditação podem de fato auxiliar alguém em um processo de cura tão delicado e complexo e, mais que isso, mudar a vida de alguém?
Foram anos tentando entender, anos pulando de escola em escola de Yoga aqui em São Paulo, porque nenhuma de fato me trazia o bem-estar e a “iluminação” que me eram prometidas. Eu me deparava com posturas complexas, as quais me esforçava para fazer bonito, muitas vezes com dores pelo corpo todo. Me via me comparando aos colegas da sala, como se estivesse em um campeonato de alongamento, e saía frustrada porque não conseguia fazer igual. Machucava meu corpo, violando um dos maiores princípios do Yoga que é a não violência, seja com os outros, seja consigo mesmo – ahimsa. Até que um dia, um amigo me apresentou o livro "Autoperfeição com Hatha Yoga", do professor Hermógenes, um dos responsáveis por disseminar o conhecimento do Yoga pelo Brasil. Com um conteúdo bem ilustrado e simples, ele explicava a origem dessa prática de auto-aperfeiçoamento, os benefícios alcançados através dos asanas e a atitude mental diante deles, a capacidade dos pranayamas para acalmar a mente e o corpo, noções de ayurveda - que é a medicina yogui - entre muitas outras coisas. Foi então a virada de chave para que eu me dedicasse, finalmente!
Em Minas, passando férias nos meus pais, tive a oportunidade de ter sido instruída por uma grande professora e amiga, a Thalyta, que com a sua gentileza, paciência e amor pelo que faz me explicou coisas que me pareciam difíceis. Uma delas era a atitude de persistência necessária à evolução, seja no Yoga, seja na vida - abhyasa -, que é nada mais que a repetição constante de algo até atingir um ponto bom - evito usar a palavra perfeição -. Assim, busquei com o seu auxílio um curso qualificado de formação em Yoga ao retornar à São Paulo, que concluí agora em novembro com muito esforço, persistência e em meio a inúmeras situações complicadas que ocorreram na minha vida durante o ano.
Meu professor Ciro, do espaço Yogapada, nos mostrou que o Yoga é nada mais que o nome indiano para um dos caminhos da auto-transcendência; é o sair da escuridão através da “transmutação metódica da consciência até que esta se liberte do feitiço da personalidade egóica”, segundo Georg Feuerstein, em "A Tradição do Yoga: História, Literatura, Filosofia e Prática". O caminho da iluminação, que parece belo na teoria mas dá um bom trabalho na prática, traz coisas bem ruins à superfície, porém é só assim que podemos identificá-las e partir para a transmutação e melhoramento.
Meu professor nos dizia que não estávamos em um campeonato de alongamento, que cada um tem seu tempo, já que estamos numa prática de auto-transcendência e essa evolução é individual, ocorrendo conforme a dedicação pessoal de cada um. Eu caí tantas vezes até atingir o asana ideal e essas quedas, como em diversos setores da minha vida, sempre me fizeram desistir por considerar que eu não era capaz, mas aí lembrava do tal conceito do abhyasa - se há milênios eles dizem que funciona, então vou seguir persistindo! -. Daí a “mágica” começou a acontecer, passei a cair menos, a prestar mais atenção na reação do meu corpo ao entrar em posturas novas – o que ele estava me dizendo, como eu me sentia. Foram passinhos de formiga que me mostraram mais sobre mim, e que posso chegar aonde quero se tentar um pouco todos os dias, não desanimar com os tombos e erros, e isso eu venho aplicando em tudo na minha vida, como por exemplo nos estudos de uma nova língua estrangeira.
Aos poucos as minhas indagações das primeiras aulas de Yoga foram sendo respondidas! Eu descobri que nos dias que meu corpo está cansado, eu posso recitar os mantras sagrados, eles têm uma vibração muito forte que mexe com alguns processos químicos em nosso cérebro, levando a mais equilíbrio e bem-estar – isso é Yoga. Os pranayamas, que são as respirações ritmadas - a coisa mais importante da prática, afinal, estamos vivos porque respiramos e, no nosso dia a dia, nós respiramos muito errado! - é Yoga. Os pranayamas já me ajudaram a sair de uma crise de ansiedade que ocorreu dias atrás, quando estava sozinha em casa.
No final de outubro, fui com a minha turma de formação para a Chapada dos Veadeiros onde rolou um retiro da nossa escola. Pudemos concluir o nosso curso em um cenário novo, pontuando ao longo dos dias os ensinamentos que nos foram passados, principalmente as características técnicas e práticas dos yogis do passado, que nos são apresentadas no Yoga Sutra de Patanjali, e permitem, de fato, que possamos viver uma vida de Yoga. São alguns deles: asteya, que é nada mais que não roubar, tanto coisas materiais como coisas sutis, e em uma viagem em grupo devemos ter consciência de agir em prol de todos, não roubando, por exemplo, o tempo de cada um; tapah, a disciplina e a renúncia de certas vontades supérfluas para se dedicar a algo maior; santosha, que é o contentamento com o agora, a gratidão pelo que estamos vivenciando nesse exato momento, nos trazendo assim, o equilíbrio necessário para seguirmos adiante!
Referências
Autoperfeição com Hatha Yoga, um clássico sobre saúde e qualidade de vida. Hermógenes
Espaço Yogapada, localizado em Higienópolis, São Paulo. Clínica Holística Samadhi, em Pouso Alegre, Minas Gerais.
The Divine Life Society, por Swami Sivananda. Com artigos e livros gratuitos para download.