cultura
Uma viagem de verão - ou de qualquer outra estação
Um roteiro de moda, design, arte, arquitetura e gastronomia na cidade de São Paulo
26 de Dezembro de 2022

Como meu pensamento está nas férias de verão, nesta coluna compartilho com vocês sobre meu roteiro de três dias em São Paulo, a primeira parada dessa viagem que vem sendo planejada nas últimas semanas (ou meses).
Entendo moda, design, arte, arquitetura e gastronomia como caminhos para conhecer uma cidade. No caso de São Paulo, para reconhecer, pois mesmo antes de escolher Buenos Aires para viver, eu escolhi a "terra da garoa". Então, sempre que vou ao meu "Brasil brasileiro", dou uma visita à cosmopolita capital.
Ultimamente, estou adepta do mapa mental e, para organizar a viagem, contei com essa técnica. Escrevi no centro de uma folha de papel o tema - viagem ao Brasil 22/23 - e fiz ramificações para as cidades que iria. De São Paulo faço uma lista do que já conheço e pretendo voltar, agregando aqueles locais que estavam salvos na minha pasta do instagram. Busco os endereços, salvo no google maps e distribuo os locais por dia considerando a proximidade entre eles.
O próximo passo é pesquisar horários de funcionamento, atrações nos dias da estadia e valores, se for o caso. Cada dia tem edifício para ver ou visitar, uma exposição, um novo restaurante.
A arquitetura modernista muito me atrai, e dessa vez quero direcionar o olhar para as obras de Oscar Niemeyer (1907-2012). Estou naquela imersão de ver vídeos e ler entrevistas do artista-arquiteto e encontrar nas suas palavras e no seu pensar a fluidez das curvas feitas em concreto. A hospedagem será no edifício Copan, tendo como vizinhos os edifícios da Galeria Califórnia, Montreal e Triângulo. Um dia terá visita ao Memorial da América Latina e no outro o conjunto que faz parte do parque do Ibirapuera, a icônica marquise com os cinco edifícios encomendados para a comemoração do IV centenário da cidade de São Paulo em 1954.
Uma caminhada pelo mais modernista dos bairros, Higienópolis, também está no roteiro. João Artacho Jurado (1907-1983) projetou edifícios que para mim são uma lúdica viagem. Li um comentário sobre sua estética ser algo kitsch, mas acho que Wes Anderson facilmente usaria como cenário para seus filmes. Quando morei na cidade gostava de passar em frente ao Lousane, projetado por Frans Heep, e por vezes parava em frente olhando o jogo de cheios e vazios das persianas vermelhas, verdes e brancas - quando a sorte estava comigo, podia escutar a melodia que ecoava de uma delas, graças a um morador com seu instrumento. Tem o Prudência, projetado por Rino Levi com paisagismo (e azulejos com desenhos) de Burle Marx, e o Louveira, do Vilanova Artigas, vizinho da famosa "casa abandonada", que quero dar aquela olhada como muitos que ouviram o podcast mais comentado (e necessário) do ano . Ainda no bairro, uma parada em frente à Casa Modernista, projeto do ucraniano Gregori Warchavchik, também está nos planos.
Agendei um horário para ver a exposição "Perfis Imaginários" que acontece no Apartamento 61. A casa-galeria funciona na residência modernista onde viveu o escultor Victor Brecheret, lá na década de 1930. Atualmente, é possível ver e adquirir móveis e objetos originais do designer Joaquim Tenreiro. E, por falar em design, quero visitar o Estúdio Rain localizado no bairro Barra Funda.
Arte é algo que São Paulo tem para dar e vender. Difícil escolher. Mas, como comprar arte não está no orçamento, escolho visitar as exposições da Pinacoteca, MASP, Instituto Moreira Sales e Memorial da América Latina. Também estou curiosa para conhecer o ateliê da artista Camila Cherobin, além de ver e refletir com as intervenções em arte urbana pelos muros da cidade.
No zigue-zague entre moda e arte, planejo conhecer o vestir artístico da Aluf e da Nadruz, as joias-esculturas da Paola Vilas e os materiais e formas propostos por Manolita e Luiza Dias.
A gastrononia das chefs Helena Rizzo, Bela Gil e Renata Vanzetto serão prioridade. Enfim, deixar de somente ver pelas telas suas criações e poder saboreá-las.
Depois sigo a viagem para o nordeste, onde encontro a família e os amigos para trocar afetos sob o sol do equador. Por lá, também direcionarei o olhar para o fazer artesanal.
É o momento de viver o Brasil profundo. Chega de saudade.