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cultura

Hollywood ainda precisa amar filmes sobre Hollywood?

Damien Chazelle faz uma ode megalomaníaca à indústria do cinema em "Babilônia", e Steven Spielberg, uma olha com nostalgia para o mesmo tema em "Os Fabelmans"

Por Raíssa Basilio

23 de Janeiro de 2023

Hollywood ama Hollywood e nós amamos amar Hollywood (ok, até certo ponto). Por causa disso, é bem comum filmes sobre cinema nos causarem um encantamento emocionado. "Crepúsculo dos Deuses" (1950), "Cantando na Chuva" (1952), "Cinema Paradiso (1988)" são exemplos disso. 

Nos últimos anos, esse tema continua rendendo produções como "La La Land" (2016), "Era uma Vez em... Hollywood" (2019), "Mank" (2020) e os recentíssimos "Babilônia", de Damien Chazelle (mesmo diretor de "La La Land"), e "Os Fabelmans", de Steven Spielberg, que foi um dos destaques do Globo de Ouro 2023.

Hollywood é um daqueles lugares tipo Paris, onde os sonhos acontecem, não dá para negar. Eu, como jornalista e cinéfila, acredito piamente nisso. No entanto, é muito curioso como esse fato cria um egocentrismo ainda maior em torno de uma indústria que já é muito autocentrada.

Entender como funciona o processo criativo de um longa-metragem é incrível, acompanhar a transição do cinema mudo para o falado, ver como as estrelas são na vida real. Todo o epicentro de Hollywood é Hollywoodiano e, na minha opinião, Damien Chazelle consegue  sintetizar fantasias, desejos, sadismo e humanidade da forma mais megalomaníaca possível em "Babilônia".

O diretor já tinha feito um tributo ao cinema em "La La Land", mas o romance entre os protagonistas é o traço mais cativante do roteiro. Dessa vez, o amor é quase inteiramente dedicado à vontade que o ator principal, Diego Calva, tem de deixar sua marca no mundo através do filmes. Ainda que exista um envolvimento com a personagem de Margot Robbie, o foco não é mostrar uma história de amor e sim toda a transformação da indústria.

"Babilônia" é uma montanha-russa atraente, sedutora e completamente mirabolante. É um filme no estilo ame ou odeie, não tem meio termo. Tenho algumas críticas em relação ao final, mas essa é uma daquelas produções que enchem os olhos até mesmo com as cenas mais absurdas e grotescas. Para mim, isso é cinema - eu quero ver algo grandioso, que foge da minha realidade e provoque reações, nem sempre boas, mas reações. Damien Chazelle faz isso com maestria. 

Em contraponto temos "Os Fabelmans", de Steven Spielberg. A história é baseada na vida do cineasta, desde seu primeiro contato com uma sala de exibição, quando era assustador ver um trem em um filme. Esse ponto conversa justamente com "Babilônia", no sentido de nos fazer sentir tudo que está na sala. Mas, o longa de Spielberg faz pensar no cinema também como algo transformador, só que de forma mais delicada.

Muito provavelmente essa plástica mais limpa, sem todas as cenas bizarras faz de "Os Fabelmans" o típico filme de premiações - já tivemos um gostinho do que vem por aí com o Globo de Ouro, que rendeu a ele duas estatuetas, de melhor filme dramático e melhor direção. Damien Chazelle, com três Oscars em sua carreira, incluindo de melhor diretor, sequer foi indicado nessa categoria no Globo de Ouro.

"Os Fabelmans"  é um ótimo trabalho de Spielberg, mas é um tão dentro da caixinha e feito para um público específico que, para mim, acabou perdendo o brilho. Mas, estamos falando da infância de uma pessoa, então não é como se desse para romper tanto a bolha. Entretanto, ao mesmo tempo, Spielberg é um dos cineastas mais conhecidos ao redor do globo, penso que ele poderia ter ido além.

Já Chazelle, entrega ao público um filme sobre Hollywood que é sujo, fala de drogas, nudez, sadismo, preconceito racial, machismo, meritocracia e muito mais. O longa não agradou aos críticos e nem às premiações - resta ver se vai cair nos encantos da academia do Oscar. Mas, a questão que fica, afinal, é: Hollywood precisa continuar amando os filmes sobre Hollywood? Parece que sim.

Por Raíssa Basilio


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