comportamento
Numa próxima encarnação quero ser pai
Mentira, a real é que está mais do que na hora dos homens mudarem
06 de Março de 2023

Quase toda mulher já deve ter ouvido a frase "escolha bem o pai dos seus filhos". Besteira ou não, nela está implícita toda a falta de responsabilidade que homens há anos têm em relação à paternidade. Fato é, a gente escolhe quem a gente dá match. Os valores batem, rola sintonia, o sexo é bem bom, por aí vai. Disso, no mínimo espera-se boa índole e muita decência na relação que se constrói - que deveriam permanecer quando temos filhos. Mas a real é que não é bem assim.
Com sorte, caso não se separe por uma série de motivos (e possivelmente lutar pelo direito mínimo de pensão), contar com a participação do pai é luxo. Importante: participação, não ajuda. Porque pai não tem que ajudar, tem que participar da criação dos filhos, como a mãe. É básico: em uma relação, as duas partes precisam se doar, mesmo que não dê pra ser todo dia 50% cada. Uns dias a gente dá 80% para o outro completar com 20, noutros 30% e ele 70, às vezes 50% pra cada e às vezes também 100%. Mas às vezes. O importante aqui é fazer a dança fluir - e para fluir é preciso dos dois. E é notável que isso raramente acontece nas relações (basta pesquisar sobre mommy burnout).
Não preciso ir longe pra ver que já passou da hora dos homens mudarem seus pensamentos e atitudes sobre participação em casa e, principalmente, na criação dos filhos. Tenho um marido participativo (tks God). Nem sempre é do jeito que eu gostaria que fosse, mas é do jeito que encontramos ser possível, ainda mais em nossa realidade de "staying home mum" e "home office working daddy". Mas comparado a alguns parentes e colegas, é algo totalmente fora da curva.
Só pra ter uma ideia, logo que chegamos da maternidade, uma pessoa (homem, claro) me falou: "Nossa, essa é a melhor fase dos filhos. Apenas mamam, trocam fralda e dormem, a gente não precisa fazer nada". A gente, aqui, entende-se por pais - eles não dão mamá e para fazer o restante normalmente a mãe tem que pedir. Olha aí, já tão cedo, a intensa sobrecarga materna chegando, somado ainda à baixa hormonal do puerpério. Louco, né?
Então como mudar? Deixando de lado leis (o absurdo que é a discrepância da licença-maternidade de 120 a 180 dias e licença-paternidade de 5 a 20 dias) e obrigações/afazeres do dia a dia (dar mamá, fazer arrotar, colocar pra dormir, dar banho, trocar fralda, sem a mãe ter que pedir) e partindo do bom senso, desde o começo: na criação dos pequenos.
Com filho homem, é preciso fazer com que lá na frente ele enxergue a participação dele na vida dos filhos como essencial, não optativa - ou seja, hoje, reforçar que homem deve cuidar da casa, fazendo participar das tarefas; reforçando que brinquedo não tem sexo, permitindo-o brincar de boneca; por exemplo.
Com filha mulher, reforçando sua independência, que mesmo não devendo depender de homem nenhum é extremamente necessário saber que não precisa carregar o mundo sozinha nas costas, não precisa ser multitarefa, podendo escolher se quer casar ou não, se quer ter filho ou não, permitindo-a escolha a profissão que desejar, lembrando que não precisar parar de trabalhar se não quiser, não sendo submissa.
E, se você, homem, grande, crescido, criado, quer saber mais como ser um pai minimamente decente e participativo, convido a assistir o incrível videocast Mil e Uma Tretas - aconselho ver todos os episódios, mas os que têm participação de dois pais "de verdade", vale ponto extra.